O meu carinho por Fernando Pessoa é grande e antigo. Contudo, não tenho muito o hábito de ler poesia e o único livro que tenho do autor é de prosa - poética, mas não deixa de ser prosa.
Comprei o Livro do Desassossego há uns anos. Já nem consigo precisar quantos. Desde então foram várias as vezes que peguei nele para o ler. Sempre em vão. Sempre uma missão impossível, deixada por acabar. Acho que nunca cheguei a alcançar o meio, em todas essas vezes.
Em dezembro do ano passado repeti novamente o ritual. Fui buscar o Livro do Desassossego à prateleira, olhei para ele com atenção e disse para mim "é desta". Uma ilusão. Li-o durante menos de uma semana, meio que para preencher os últimos dias até ao final do ano, aquele período de tempo vão em que nada acontece e que sabia não conseguir terminar nenhum livro.
Janeiro chegou e, durante semanas, voltei a abandonar o Livro do Desassossego. Ficou a servir de decoração em cima da secretária. Até que voltei a dar-lhe o merecido destaque e trouxe-o de volta para a mesa-de-cabeceira, o lugar mais cobiçado pelos livros cá de casa, o lugar das leituras atuais.
Aceitei o facto de não ser um livro para se ler de seguida e sim um livro para se ir lendo nas entrelinhas dos dias. Das semanas. Dos meses.
É um livro-casa, um livro para me demorar, um livro para deixar sempre por perto e para sempre voltar. Por este motivo, só este podia ser o livro do mês de fevereiro do desafio Alma Lusitana, cujo tema é Aveiro: um livro para morar.
Admito que com uma pequena batota, porque ainda não li o livro todo (nem vou ler até ao final do mês). Mas, vamos ser práticas, como se pode morar num livro descartável, que em poucos dias volta para a estante? Um livro para morar precisa de ser eterno, seja no tempo de leitura, seja no sentimento que deixa em nós. E este é o meu livro-eterno.
Ah! Além disso, é um desassossego. Não só pelo nome, como também pela turbulência que tem sido a sua leitura (ou as tentativas). E se há coisa que me lembre casa é desassossego, aquela agitação familiar que tão depressa cansa, como aconchega.
Por falar em aconchego... o Livro do Desassossego fala de sonhos e das ilusões da vida. E a escolher um livro para morar, que ele seja um lugar onde possa sonhar.
Fiquei mesmo encantada com a tua interpretação ao tema :)
ResponderEliminarÉ um dos livros que tenho na lista dos 30 antes dos 30 e ando a falhar com a obra há imenso tempo, vamos lá ver se é este ano que me aventuro
Começa rápido, que se fores como eu demoras tempo ahah.
EliminarAinda bem que gostaste desta interpretação meio batoteira :P
Há uns anos atrás peguei nele e lembro-me de ter gostado bastante e de falar de temas tão interessantes, mas por alguma razão ficou por acabar. Concordo contigo, é mesmo daqueles livros que não é suposto ler de seguida, mas sim ir lendo.
ResponderEliminarBeijinho,
Six Miles Deep
É um livro delicioso, mas tem mesmo de ser lido com muita calma :D
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