A pandemia fechou-nos em casa e a internet abriu-nos (ainda) mais janelas para o mundo. Estou a falar dos lives. Sim, eles já existiam antes, mas não eram tão comuns antes do primeiro confinamento, em março do ano passado.
Nesses primeiros meses em casa, os lives tiveram um crescimento gigante. Todos os dias existiam inúmeros e quase a todas as horas. Era só ligar o Facebook ou o Instagram e a primeira coisa que apareciam era uma série de diretos. Era de conversas, de divagações, de receitas, de exercícios, de festas, de aulas de dança, de tudo e mais alguma coisa.
Abertas as portas, desligaram-se os lives. Ou pelo menos a sua maioria. Manteve-se a cultura e normalização de realizar lives esporádicos para alcançar os públicos nas redes sociais, mas aquele boom visto no primeiro confinamento acabou por desaparecer.
Entretanto chegou 2021 e fomos todos mandados para casa novamente. Desta vez já não estamos todos tão unidos na mesma "clausura", já há mais gente a sair, já há muito mais gente cansada e sem paciência para grandes atividades. É compreensível. São muitos meses disto. Contudo, voltaram a haver mais diretos, comparado com os últimos meses.
É uma forma de nos mantermos ativos e em contacto uns com os outros. Não podendo abrir as portas de casas, abrem-se janelas de lives. Podemos compará-los aos programas de televisão, uma versão caseira de um late show, de um programa de entrevistas ou de um concerto acústico gravado. Servem para entreter e mostrar outras realidades além das nossas quatro paredes.
Agora, será que os lives têm futuro além dos tempos de pandemia? Será que são uma oportunidade de crescimento e atuação em setores como a cultura?
Quando se fala em lives a primeira imagem que vem à cabeça são os "caseiros" feitos nas redes sociais. Contudo, também existem os diretos noutras plataformas, com uma maior dimensão e com um custo associado.
Podemos participar em workshops e webinars, podemos ver espetáculos culturais e podemos ir a eventos de empresas. Tudo em versão online. Sim, temos mesmo o mundo nas palmas das mãos e quase nem pensamos nisso, por já ser tão banal.
Vamos voltar um pouco atrás... ali ao "custo associado". Até há um ano nunca tinha posto a possibilidade de pagar para ver um evento online. Se é para ver um concerto ou uma peça de teatro queria estar no local - e de preferência na primeira fila! Além de que existe toda a envolvência de sair de casa, visitar um sítio diferente, encontrar amigos, conhecer pessoas. Para ver alguma coisa sentada no sofá ou na cama ligava a televisão, a Netflix ou o Youtube.
Mas, entretanto, o mundo ficou de pernas para o ar e as minhas ideias também foram mudando. É o ciclo natural da vida!
A passagem de ano foi feita em casa, na companhia da Passagem de Ano 2019 - 2021, um live feito num estúdio. Teve apresentadores, teve músicos bem conhecidos, como Áurea, Virgul, Blaya, Fernando Daniel e HMB. Tratou-se de um evento pago, produzido pela H Collective e Deejay Kamala.
Foi um evento fantástico e sabes qual foi a melhor parte? Poder ter assistido em casa! Raramente saio na passagem de ano. Tudo o que acho interessante nesta altura acontece em Lisboa ou noutras grandes cidades - a capital é o que está mais perto de mim - e nunca tenho oportunidade nem facilidade de ir até lá. Fora desta altura também nem sempre é fácil uma pessoa deslocar-se. Não se trata só da distância, como também dos custos que a viagem implica.
Pela primeira vez em muitos anos tive fui a uma festa de passagem de ano, logo em ano de confinamento. É a ironia da vida. Ou as oportunidades que o digital traz!
Passou-se o ano, passou janeiro, entrou o confinamento e veio o Carnaval. Já aqui falei sobre quão importante esta altura do ano é para mim. Enfim, sou apenas mais uma foliã de Torres Vedras que vive para o Carnaval. Este ano foi feito em casa. Como tudo o resto. Manteve-se o espírito. Houve conversas com amigos enquanto se assistiam a lives diversas.
À falta de trio elétrico, carros de matrafonas, corsos e praças, o programa das festas passou pelas lives do Carnaval em Casa de Torres Vedras, live da Ivete e da Cláudia Leitte, Live do Beats no Bloco da Anitta e live do É Carnaval. Este último, mais uma vez, um evento pago, com produção H Collective e Deejay Kamala.
No mesmo fim-de-semana juntei concertos de cantoras que adorava ver nesta altura, mas que nunca seria possível fazê-lo em condições normais, porque no Carnaval elas não saem do Brasil e eu não saio de Torres. E ainda tive direito a ter o "meu" Carnaval e o dar um pezinho de dança com o I Love Baile Funk, esse projeto que tanto gosto e que ainda não tive oportunidade de ver ao vivo - outra vez a distância...
E como eu, tanta gente sem oportunidade de se deslocar sempre que acontece um evento noutra zona do país que não a sua. Aliás, até me considero sortuda por estar perto de Lisboa. Como eu, tanta gente que teria muitas mais oportunidades para assistir àquele espetáculo que queria tanto se ele não fosse só na outra ponta do país e ocorresse, também, no digital.
O digital é um mundo ainda com muito por explorar. Um mundo que encurta distâncias e aumenta oportunidades. É estranho pagar para eventos online? Um pouco, sim. Mas há uns anos as compras online, também, eram um bicho de sete cabeças para a maioria das pessoas e agora são o prato do dia.
Neste sentido, e pegando no exemplo da cultura, o seu futuro - e quiçá o seu crescimento - pode muito bem passar por se estender e adaptar (ainda mais) ao digital, com produções realizadas em formato misto (online e presencial), em streaming gravado ou em lives.
Hoje ainda pode ser um pouco estranho pagar para ver um evento sentada no sofá, contudo, muito provavelmente daqui a uns tempos esta realidade será bem mais comum.
No fundo, acaba por também ser uma forma de trazermos um pouco de normalidade a este caos.
ResponderEliminarMuito interessante esta abordagem!
É uma espécie de escape :)
EliminarObrigada *-*