07/06/2023

BRISAS | FÉRIAS PARA FAZER NADA

férias para fazer nada

Começo este texto com um pedido: vamos normalizar o conceito de tirar férias para fazer nada. Apenas descansar.

Escrevo-vos na minha cama, onde passei as últimas horas e vaguear entre leituras e scroll nas redes sociais. Lá fora está vento e, apesar do sol, com alguns aguaceiros de vez em quando. Ambiente propício à introspeção e descanso. Amanhã termino a minha semana de férias e pouco fiz e este foi o maior cenários destes dias. 

Não tinha grandes planos para esta semana. Queria ir à Feira do Livro de Lisboa e ver uma amiga. Foi a única coisa emocionante e o único passeio destes sete dias. O resto foi descansar. Tive tempo para me dedicar a alguns projetos, mas no conforto da minha cama, com o computador no colo, sem grande pressão nem grandes correrias.

Maio foi um mês exigente. Pareceu que teve meio ano dentro de si, foi muito cansativo e a saúde não andou nos seus melhores dias. Enfim, estava mesmo a precisar de férias e cada dia que passava, mais me agradecia por ter tirado a primeira semana de junho.


FÉRIAS PARA DESCANSAR

Precisava de férias para descansar completamente. Para me entregar ao prazer do ócio e fazer nada. Ver os dias a passar enquanto lia e caminhava, esvaziava a cabeça e dava descanso ao corpo. 

Mas apesar de saber bem o que precisava - e de reconhecer o bem que me fez e soube - dei por mim a pensar que devia ter feito mais coisas, que se me perguntarem o que fiz nas férias não tenho nada de interessante para dizer. O que também é mentira, fui a Lisboa, visitei a Feira do Livro, encontrei uma amiga, passei bons momentos em família, fiz caminhadas, li bons livros, criei conteúdo para as redes sociais, escrevi...

Afinal nem foi uma semana de fazer nada. Foi uma semana com muito tempo para cuidar de mim e priorizar-me. E isso é mais importante do que grandes planos, viagens e feitos. Que também são coisas que fazem falta e de que gosto. Só que há um tempo para tudo e eu precisava de tempo para nada.


A PRESSÃO PARA FAZER SEMPRE MAIS

Sempre fomos treinados para estar sempre a fazer algo. Se não for a estudar ou trabalhar, temos de estar a criar algo, a arrumar algo, a ver algo, a conhecer algo novo... Quando estávamos na escola, no primeiro dia a seguir a todas as férias pediam-nos uma composição com o tema "O que fiz nas férias". Mesmo antes, na pré-primária, antes de sabermos sequer ler e escrever, pediam-nos para fazer um desenho que ilustrasse as novas atividades de tempo de férias. Porque fazer nada nunca seria opção. Tinham de haver sempre folhas e folhas repletas de movimento.

Hoje já não somos cobrados em forma de trabalhos com base nos nossos dias, mas somos através de perguntas diretas "Como foram as férias? Fizeste muita coisa?". Amigos, eu só queria fazer os mínimos. Até escolher roupa já era algo que exigia demasiado para a minha vontade. Sabes quando um telemóvel é usado durante muito tempo seguido, fica demasiado quente e precisa mesmo que o largues para arrefecer e conseguir voltar a funcionar? Eu era esse telemóvel antes destas férias.

E sabes o que é mais curioso? Eu precisava tanto de um reset e sabia-o, mas mesmo assim fico a cobrar-me por não ter aproveitado melhor as férias. Como se aproveitar bem o tempo fosse só estar sempre ocupada. Chamam-lhe FOMO e eu vou concordar com isso. Também admito aqui ter aquela pressão das redes sociais, em que todos parecem ter uma vida super ativa e interessante - quando sei perfeitamente que não é assim. Bem, pelo menos consigo perceber as raízes dos meus pensamentos menos positivos e reconhecer que são apenas consequências de construções sociais e não o que preciso verdadeiramente.

A dizer a verdade, mesmo que tivesse vontade de fazer muito mais do que fiz, o corpo não tinha. O nosso corpo é curioso. Ele diz-nos tudo o que precisamos e nem precisa de falar. Só temos de lhe prestar atenção. E o meu gritou a plenos pulmões por descanso nestes dias. Foi o que lhe dei e foi o melhor que fiz. 

2 comentários

  1. Ai, sim, sou muito a favor de férias para não fazer nada. Acho mesmo importante conseguirmos desconstruir e contrariar essa tendência de estarmos sempre em movimento, de querermos ser produtivos, de querermos que o tempo se preencha com mil coisas.

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    1. Exato! Há tempo para tudo... para se ser produtivo, para passear e ter viver experiências e para descansar fazer nada :D

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