08/02/2023

LIVRO | O REGRESSO, KRISTIN HANNA

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Há livros que se nos cravam na pele como uma rosa cheia de espinhos e nos arranham a alma. "O Regresso", de Kristin Hanna, é um deles. Pela positiva e pela negativa. É uma história que nos deixa com o coração nas mãos a cada página e nos faz por em perspetiva toda a nossa vida. É uma história que mexe com os nossos sentimentos e nos leva da emoção à raiva num tirinho (e isto não é só uma figura de estilo).

Antes de continuares a ler, deixa-me avisar que este texto contém pequenos spoillers,
nada que revele grandes plots da história, apenas um pouco mais do que diz na sinopse.


MAS AFINAL, DO QUE FALA ESTE LIVRO?

Fala de Jolene e Michael, um casal aparaentemente normal e com um bom casamento e duas filhas de 4 e 12 anos. Até ao dia em que um destacamento militar vai mudar tudo. Jolene vai para a guerra no Iraque, fazendo com que esta família se separar e reajustar. Até que um dia vão sentir na pele as marcas que a guerra deixa nas pessoas - naqueles que a vivem diretamente e nos seus familiares e amigos. 

Kristin Hanna mostra um retrato nu e cru da guerra e das mazelas que deixa. Do sofrimento de quem fica e não sabe o que se passa e de quem vai e vê e vive mais do que a mente humano está preparada para lidar.

LÁGRIMAS, REVOLTA E UMA MONTANHA DE SENTIMENTOS

Neste livro, Kristin Hanna tem a capacidade de me levar à beira das lágrimas num minuto e à raiva no minuto seguinte. Posso até dizer que história me deu náuseas de revolta porque nunca vou compreender nem aceitar que as coisas se resolvem com guerras. Não consigo ler "heróis de guerra" e sentir que o são. Vai soar-me sempre a um patriotismo exagerado e a vidas inocentes perdidas por causa de interesses mesquinhos dos "grandes políticos". Vai soar-me sempre a injustiça.

Já a parte das dinâmicas e problemas de família foi todo um misto de sentimentos. Fez-me pensar quantas relações e casas funcionam unilateralmente. Quantos casais estão juntos porque um carrega o outro, porque é apenas uma rotina confortável. Quantas famílias seguem levadas ao colo por um só elemento que gere e conhece bem todos os outros, enquanto a segunda pessoa apenas anda a passear no seu mundo, deixando-se levar pelos dias sem perceber bem como tudo é todos funcionam à sua volta.

Se houve algo que me revoltou muito (à parte da guerra) foi um pai sentir-se minimizado enquanto homem por tratar das filhas. Primeiro o sexo não defini tarefas domésticas. Em segundo, é mais importante, um pai nunca deveria sentir-se minimizado e envergonhado por cumprir o seu papel, mas sim ao contrário. Já por seu turno, uma mãe é sempre uma mãe. Independentemente das guerras que trava ao longa da vida.


A EXPERIÊNCIA DE LEITURA E OUTRAS NOTAS

Ler "O Regresso" foi toda uma viagem de emoções, como já deves ter reparado. Senti-me completamente imersa da história e li-o de rajada. A escrita de Kristin Hanna ajuda. Foi o primeiro livro que li da autora e gostei muito da forma fluída e natural como escreve e como é capaz de nos fazer sentir o que os personagens sentem e por aquilo em que estão a passar de forma muito real, tornando a experiência de leitura muito mais intensa.

Quando falo nos meus sentimentos durante a leiutra - seja os momentos de coração bem apertado, seja quando me senti revoltada - encaro-os sempre como algo positivo no livro e na leitura. Porque uma história que nos faz sentir e viver tanto quanto experienciei ao ler "O Regresso", é uma história muito bem construída e digna de ser aplaudida.

Só tenho uma coisa para lhe dizer: Kristin, tu és uma artista das palavras, mas faz capítulos mas curtos, filha! Por favor! Ninguém merece capítulos com mais de quinze páginas. Ainda por cima, se eles já estão divididos lá no meio, é porque podes mesmo fazer mais capítulos!

Por fim, quero agradecer a Bertrand Editora por me ter cedido este livro. De outra forma talvez não  o fosse ler e perderia uma grande história!

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