Às 21h35 tens de estar à porta do Chapeleiro. Nem um minuto a mais, nem um minuto a menos.
Foram estas as palavras que ouvi antes de começar a peça "Alice, o Outro Lado da História". E às 21h35 lá estava eu à porta do Chapeleiro. Mas, vamos voltar um pouco atrás. Porque a esta experiência começou mais cedo.
"Alice, o Outro Lado da História" é uma peça imersiva em que só se pode viver sozinhos ou a pares. Eu levei companhia e aconselho a levares também. Mas escolhe bem. Vais querer ao teu lado alguém em que confies. Afinal, vais passar por uma experiência que vai marcar o resto da tua vida.
UMA EXPERIÊNCIA IMERSIVA DESDE O PRIMEIRO MINUTO
Chegámos à porta antes da hora marcada, como pedia no bilhete. Para nos receber uma mensagem que pedia para nos dirigir-mos mais acima, ao local do check-in. Foi aí onde tudo começou.
Somos recebidos por um mordomo, numa sala decorada ao pormenor e onde ouvimos vozes e sons que não de sabemos de vêm. Recebemos um crachá com a hora da nossa entrada. 21h35. Nem um minuto a mais, nem um minuto a menos. Mas, como ainda temos alguns minutos decidimos ir à casa de banho. Seguimos a indicação do mordomo. Subir a escada e seguir até ao fundo do corredor.
É logo nos primeiros degraus que percebemos que já não estamos no mundo real. Tampouco em 2021. Estamos no final do sécul XIX e o mundo e o de Alice. A escada tem velas acesas em cada degrau e range um pouco. O corredor tem um aspeto velho e abandonado, as luzes a tremem e os sons estranhos continuam persentes.
Descoberta a casa de banho, deparamo-nos com um cenário de um filme antigo, com um toque de misticismo. Aqui, a luz também treme um pouco, há livros gastos por todo o lado, fotografias de crianças e até uma carta de amor dirigida a Alice Liddle. Mais tarde iríamos perceber porquê. Agora ainda é tudo um grande ponto de interrogação.
O PAÍS DAS MARAVILHAS
O tempo não pára e temos os minutos contados. Então, lá vamos andando de volta para a porta do Chapeleiro. Pelo caminho, começamos a perceber que não tínhamos bem noção no que nos tínhamos metido. Com o folheto da peça na mão, é a primeira vez que estamos a ler o resumo da história.
21h35! O Chapeleiro abre a porta e recebe-nos na sua sala saída do País das Maravilhas. Bebemos um chá, conversamos e depois ele deixa-nos e podemos explorar o local e registar o momento.
O Chapeleiro regressa e guia-nos por mais umas porta. Tudo é idílico e até nos tira fotografias e brinca connosco. Sempre com um ar simpático!
De repente! O sorriso desaparece e expressão fecha-se. Olha-nos com um ar sério, diz-nos as regras e temos de as repetir. A partir de agora o teu nome é Alice Liddell. Perdemos o nosso nome. O País das Maravilhas já não existe e acabamos de entrar num hospício.
O OUTRO LADO DE ALICE LIDDLE
Alice Liddle, tinha 10 anos quando começou uma relação amorosa com o seu professor de matemática 17 anos mais velho. A relação durou 7 anos. Quando terminou, Alice foi internada no hospício. Alice sou eu. Alice é o meu amigo. Alice és tu, se fores assistir a esta peça.
Durante a maior parte desta experiência imersiva vamos percorrendo o hospício na pele de Alice Liddle. Somos confrontados por personagens doidas e macabras, em cenários irreais e assustadores. Confesso, o coração bateu mais forte muitas vezes e fiquei muito agradecida por ter a máscara a tapar a cara corada!
Ao percorrer o labirinto d'O Outro Lado da História, somos julgados, assediados, confrontados com a dura realidade do que é ser vítima, culpado, inocente. Durante a peça somos de um pouco e vimo-nos forçados a fazer algo que muitas vezes é esquecido. Pormo-nos na pele do outro.
Em "Alice, o Outro Lado da História" andamos de cenário em cenário, conhecendo e contracenando com várias personagens. Sim, leste bem. Contracenamos. Assim entras na porta do Chapeleiro deixas de ser um simples espectador e passas a ser parte da peça.
DESCULPA
Há tanta coisa que queria contar-te sobre esta experiência. Queria falar-te dos pormenores dos cenários, das características das personagens, das coisas que ouvi, das descobertas que fiz. Queria contar-te tudo o que vivi, mas não o posso fazer. Desculpa!
É que se contar mais que isto vou estar a dar-te o mais spoiler da tua vida.
Ok, vou fazer um esforço para de contar mais alguma coisa sem revelar nada da história.
Em "Alice" conheces a origem não tão encantado da origem do livro do País das Maravilhas. Percorres não só um labirinto de cenários, como também um labirinto de sentimentos e sensações. Deparas-te com sensações que te fazem pensar na vida. Mais! Fazem-te perguntas que põem a pensar na TUA vida. Julgas e és julgada. Vais ouvir várias versões de factos. Vais conhecer muitas personagens e a forma como elas vêm o mundo. Vais encontrar muitos detalhes e pontas soltas e vais poder juntar tudo no final. Vais perceber que está tudo ligado! Sim, até a decoração da casa de banho, mas não contes a ninguém...
No final, vais sair d'O Lugar do Cabo Ruivo e vais levar Alice Liddle contigo. Afinal, viveste na pele dela durante uma hora e de forma muito intensa. É impossível largar aquela menina do momento para o outro. Escrevo estas palavras uma semana depois de ter vivo a experiência e ainda sinto a Alice dentro de mim.
Fiquei cheia de vontade de viver esta experiência. Que incrível *-*
ResponderEliminarSuper aconselho. Tanto que ia ver outra vez, na boa!
Eliminarps. É uma boa sugestão para a Portugalid[Arte] ;)