O algoritmo é a nossa impressão digital online. Agrega todos os nossos gostos, amizades, ídolos, pensamentos, ideias. Se gostas de ler o teu algoritmo está repleto de livros. Em especial dos teus géneros e autores preferidos. Se gostas de futebol, o teu algoritmo enche-se de clubes e jogadores. Não todos, só aqueles que gostas.
Quando aderimos a uma nova rede social, os primeiros tempos são sempre um pouco confusos. Demoramos um pouco a habituarmo-nos, mas não tanto pelo seu modo de funcionar. Regra geral, são todas bastante intuitivas. Até porque o seu objetivo principal é prender os utilizadores. Portanto, só têm que ser de fácil utilização.
O QUE DEMORA A HABITUAR É O CONTEÚDO
As redes sociais prendem-nos pelo conteúdo. Quanto mais conteúdo relacionado com o nosso gosto e personalidade estas nos mostram, mais tempo passamos nelas. Porém no início da utilização de uma nova rede é sempre meio complicado, porque não nos são logo apresentadas publicações 100% compatíveis connosco.
Ao criarmos conta numa rede social uma das questões que nos sãos feitas é sobre os nossos gostos. Humor, personalidades, desporto, política, atualidade, mundo, animais, música, cinema... São tantas as categorias apresentadas que acho que nunca as leio todas. Passo os olhos e seleciono as palavras que despertam o meu subconsciente. Depois, como se nos tivessem dado poucas opções, ainda aparecem mais subcategorias.
Tudo para nos conhecerem bem e nos darem exatamente aquilo que queremos e gostamos. Tudo para nos prenderem. Não me queixo. Mais, reconheço a frustração que são os primeiros dias numa nova rede social. Apesar de todas as informações que damos à partida, o algoritmo demorar uns tempos a moldar-se a nós e uma parte do conteúdo é meio aleatório e desinteressante.
O TWITTER E O TIK TOK SÃO OS QUE DEMORAM MAIS TEMPO A EDUCAR
O Twitter e o Tik Tok são as redes que demoram mais tempo a "educar" o algoritmo e a criar um feed que tenha realmente a ver com os nossos gostos.
O Twitter porque é preciso começar a fazer retweets e comentar contas de pessoas que nem conhecemos e dá uma sensação de intrusão na vida alheia, ao mesmo tempo que parece que estamos a falar sozinhos e mandar tweets para o vazio.
O Tik Tok porque está cheio de vídeos aleatórios sobre tudo e mais alguma coisa. Ao início vão aparecendo os mais virais e isso nem sempre significa que sejam os que mais têm a ver com os nossos gostos.
O ALGORITMO É COMO UMA RELAÇÃO
É preciso ir investido nele, dar-lhe tempo, limando arestas, aprimorando-o com detalhes, darmo-nos a conhecer. E, num mundo comandado pelo digital, há poucos que nos conheçam tão bem como quando o algoritmo nos conhece.
QUANDO O ALGORITMO NÃO É SÓ NOSSO
Tudo começa a complicar quando emprestamos o telemóvel a alguém. Ou se vê algo completamente fora do nosso gosto. Aqui quem muda mais rapidamente é o Tik Tok e o YouTube.
A minha for you page do Tik Tok tem conteúdo muito variado. Entre o qual estão vídeos com compilações de músicas entre os anos 80 e início dos anos 2000. Não há volta a dar. Por mais apps modernas que instale, há coisas da minha vida que vão ser sempre mais old school. No entanto, há uns dias vi um vídeo deste género só que com músicas de uma banda recente e super Gen Z, com a minha irmã- O resultado? Desde então tem continuado a aparecer vários vídeos sobre essa banda. Como não tenho qualquer interesse, lá ando a dizer que não estou interessada, para ver reeduco o rebelde do algoritmo.
Já no YouTube a história é mais peculiar. Cá em casa, temos uma caturra. É um pássaro muito carente de atenção e, como não sou a melhor pessoa para assobiar, habituei-a ver vídeos de outras caturras. Às vezes ponho vídeos mesmo dela, outras do Tik Tok e outras do YouTube.
No Tik Tok já costumo ver vídeos de caturras e até sigo algumas contas. A sério, estes bichos são um máximo! Assim, quando os mostro à caturra, já não vão "estragar" o meu algoritmo, porque fazem parte dele.
Por outro lado, o meu algoritmo do YouTube consiste, quase na totalidade, a vídeos de meditação ou de exercícios. Não uso a plataforma para muito mais. Então, quando decidi por vídeos de caturras num dia (UM DIA!), o algoritmo mudou por completo. Na vez seguinte que abri a app apareceram Shorts de caturras a cantar no meio dos meus vídeos para acalmar a mente. Acontece que estes pássaros não têm um canto muito suave. Pelo contrário, conseguem ser muito histéricos e barulhentos.
O ALGORITMO É MUITO BONITO
Mas é quando é só nosso. Quando o andamos a partilhar com irmãos mais novos ou animais de estimação, pode tornar-se num arraial de loucura. Isto não é propriamente mau. Vem para quebrar a rotina e mostrar outras realidades. Mesmo que sejam caturras a cantar a música da Pantera Cor de Rosa. Sempre dá para quebrar a rotina e rir um bocado.
TUDO O QUE É DEMAIS ENJOA
E o algoritmo não é exceção. Às vezes, cansa estar sempre a ver o mesmo conteúdo replicado por cinquenta contas diferentes. E é difícil fazer com que ele comece a mudar e mostrar-nos outras coisas. É aquele alerta para desligar a internet por agora e fazer algo diferente e estimulante.
Por outro lado, o algoritmo também consegue ser perigoso. Ao mostrar só e cada vez mais conteúdo relacionado com os gostos e ideais de cada um, vai aumentando os pensamentos extremistas e radicalizando as pessoas mais suscetíveis e influenciáveis.
É PRECISO BALANÇO
Como em tudo na vida, é preciso balançar o algoritmo, para este não se tornar extremista e não limitar a nossa visão do mundo. Talvez seja bem pensado por o nosso telemóvel nas mãos de familiares e amigos e deixarmos misturar os gostos deles com os nossos. Talvez seja boa ideia, vaguearmos por pesquisas e hashtags aleatórias que não costumamos seguir. De certeza que é bom para todos deixarmo-nos levar pelo desconhecido e alargar horizontes.
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