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Na escola secundária de Mordale, os estudantes encontram-se numa fase da vida delicada. A par das aulas, têm um problema ainda maior: descobrir quem são.
A série Sex Education fala da tão complexa procura de respostas, caminhos e identidade que é vivida na adolescência. Nesta fase são mais as perguntas do que as respostas. E mesmo quando estas chegam vêm, muitas vezes, pouco esclarecedoras. Ou até mesmo erradas.
A não ser que venham de Otis. O jovem com dificuldades de socialização tem respostas para tudo o que esteja relacionado com sexo. É a vantagem de ter uma mãe terapeuta sexual e sem complexos. Perante todas as dúvidas dos colegas, Otis e a sua colega Maeve decidem abrir uma clínica sobre sexualidade, num edifício abandonado da escola.
É a partir desta premissa que se desenrola a trama de Sex Education.
Na secundária de Mordale, pode-se encontrar todo o tipo de pessoas. Heterossexuais, homossexuais, bissexuais, pansexuais... a comunidade LGBTQ+ está bem representada na série da Netflix. Assim como vários problemas e questão que surgem antes e depois de se iniciar a vida sexual.
Sex Education é uma comédia dramática com uma narrativa cativante, bem construída e, até, comovente. Os personagens são fortes e bem construídos, tendo todos uma personalidade bem traçada e com história.
A par do entretenimento, a série britânica passa mensagens importantes. Tudo o que devia ser dito nas escolas. E não é. Infelizmente.
Orientação sexual, doenças sexualmente transmissíveis, saúde sexual e assédio são alguns dos temas abordados ao longo da série. De forma lúdica e esclarecedora vemos normalizadas todas as questões relacionadas com a vida sexual. E o mais importante: sem preconceitos.
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TODAS AS VULVAS SÃO ÚNICAS
É uma das frases mais marcantes e que gera mais momentos icónicos na terceira temporada da série. Mas desde a primeira temporada que este tema é falado. Esta frase refere-se ao formato da vulva, mas há ao longo da série podemos ver esclarecidas questões sobre a constituição, o cuidado e doenças como o vaginismo.
Além do mais, em Sex Education é dado muito destaque à sexualidade. Mostra como o prazer feminino pode ser conseguido e a sua importância tanto para a mulher como ser individual, como para as relações. Fala sobre o aborto, as dores físicas e psicológicas que este traz e como não tem de ser um estigma e algo perverso.
É PRECISO FALAR SOBRE ASSÉDIO SEXUAL
É preciso educar os homens a respeitarem as mulheres, para que possamos sair de casa sozinhas. Sem medos. É preciso largar os preconceitos e falar sobre o impacto psicológico que o assédio sexual tem nas vítimas. Por mais "pequena" que a situação possa parecer, na mente da vítima é gigante. Esta precisa de apoio e de compreensão. E, acima de tudo, precisa de saber que não é a culpada.
Sex Education transmite estas ideias muito bem.
AS DST'S SÃO REAIS
As doenças sexualmente transmissíveis são reais e não aconteceu só aos outros. Em Sex Education podemos encontrar várias cenas a desmistificar e alertar para este problema. Sobre quais os impactos e tratamentos e como se podem evitar. Com isto, reforça a ideia de que a contraceção não ser apenas para não engravidar e da importância do uso do preservativo.
A SAÚDE MENTAL IMPORTA
Sex Education não é só sobre sexo. Fala também sobre outras questões da adolescência - e da vida em geral. Um delas é o transtorno de Ansiedade. Como pode surgir, como pode ser identificada e como pode ser tratada.
Crescer é difícil e quando há demasiada pressão e pouco acompanhamento - seja de amigos, família ou profissionais - tudo fica pior. E mais escuro. É importante estarmos atentos e sermos gentis para com os outros e connosco. Se houver algum problema a solução é pedir ajuda, não esconder.
AMIZADES E BULLYING
Na adolescência tudo parece ter uma dimensão maior. Na escola parece haver sempre dois polos fortes: as grandes amizades e o bullying. Bullying não precisa de um adjetivo impactante a acompanhar. A palavra em si já é demasiado forte. E o impacto negativo que tem nas vítimas tem uma dimensão gigante.
Em Sex Education podemos ver estes dois temas muito bem retratados. Se, por um lado, a série mostra a importância e o valor das amizades. Por outro alerta para o problema do bullying e para os danos deste inerentes.
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TUDO O QUE DEVIA SER DITO NAS ESCOLAS
Terminei o secundário em 2011 e, na altura, nada disto era falado nas escolas. Sim, tive um par de aulas sobre educação sexual, mas pouco se retirou de lá. A culpa não era da professora e tão pouco quero culpar a escola por isso. O problema é maior que isso. A sociedade e o sistema em si ainda têm um grande tabu com questões relacionadas com a sexualidade.
Eu mesma, há uns anos nunca teria imaginado estar a escrever sobre isto. Ver uma série chamada Sex Education e partilhá-lo nas redes já seria demasiado!
A verdade é que se não houvesse sexo, não existiam pessoas. Então porquê tornar isto um tabu?
A sexualidade faz parte da vida de todos. Solteiros, comprometidos, com uma vida sexual ativa ou até assexuais. A sexualidade tem a ver com prazer, bem estar físico e psicológico e com saúde. Por isso, deve ser falada e debatida com naturalidade. Desde cedo, de preferência.
Quando digo que Sex Education tem tudo o que devia ser dito nas escolas é porque, ao olhar para trás, gostava de ter ouvido muitas das coisas que são faladas na série quando tinha 15 anos. Teria sido tão útil e tão mais fácil ter alguns conhecimentos e desmistificar situações cedo. Teria evitado muitas perguntas na minha cabeça. E acredito que este sentimento é partilhado por muita gente.
MUITO ALÉM DE SEXO
Sex Education fala de empatia. De relações. Das dores e questões de crescimento. E é sobre isto que se devia falar mais. Matemática é importante. As Línguas também. Mas onde há lugar para os sentimentos? Onde há lugar para deixarmos preconceitos e estarmos à vontade para mostrar quem somos. Para sermos e deixarmos de ser, sem vergonha da descoberta e da identidade individual?
É esta a minha parte preferida de Sex Education. Todos são únicos e, ao longo da série, todas as personagens vão se desenvolvendo, afirmando a sua identidade e quebrando preconceitos. Devíamos ser mais assim. Eu devia ser mais assim.
Tenho mesmo de me dedicar a esta série!
ResponderEliminarSIIIM. É fantástica!
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