SETEMBRO AMARELO | A SAÚDE METAL IMPORTA

As olheiras marcadas contrastam com o sorriso rasgado. Não dormiu. Foi mais uma noite de insónias. Para ser sincera, já nem sabe se prefere as noites acordada ou aquelas que dorme. Pois, mal fecha os olhos aparecem pesadelos angustiantes.

Diz-se cansada. Passa os dias com sono e as noites em alerta. O corpo está sempre meio dorido. Falta-lhe as forças. As pernas estão pesadas e doem tanto que mal consegue andar. Sente-se com uma tonelada. Meia dúzia de passos é o suficiente para ficar cansada.

O apetite também anda instável. Tem vezes em que mal consegue comer. Tudo a deixa mal disposta. E nem é preciso provar. Basta sentir o cheiro a comido. Noutras horas apetece-lhe devorar este mundo e o outro. Principalmente se forem feitos de chocolate e outros doces. Guiada por uma tentação para o abismo, qual Hansel e Grettel.

Poucos notam. Um "dormi mal" ou um "comi há pouco e agora não tenho fome" servem na perfeição para disfarçar a realidade. Principalmente se vierem acompanhados por aquele sorriso constante e por uma outra gargalhada ocasional.

É muito fácil disfarçar. É demasiado simples passar despercebida.

Não o faz intencionalmente. Na verdade só queria um abraço demorado, enquanto deitava todas fora todas as suas mágoas por entre lágrimas e soluços. Na verdade só queria falar, ser ouvida e compreendida. Na verdade só queria conhecer a sensação do que é estar tudo bem. Mas não está!

RECONHECES ESTA SITUAÇÃO E SINTOMAS?

Já alguma vez passaste por isto? Conheces alguém que tenha passado por isto?

Estes sintomas são, muitas vezes, mais do que condições e problemas físicos. Estão relacionados com o psicológico e com as doenças mentais. Ansiedade, depressão, entre tantos outros. São doenças graves e devem ser encaradas como tal.

Devo já dizer que não estou a falar como profissional nem seguindo dados científicos à letra. Não tenho formação nem conhecimentos para o fazer. Estou a falar por experiência própria. Aquele "ela" podia ser um "eu". Tenho ansiedade e não tenho problemas em o afirmar. Já passou esse tempo.

Também já estive muito mais no fundo do poço, onde era demasiado difícil ver a luz. Agora consigo manter-me à tona com facilidade. Há dias piores. Vai existir sempre dias piores. É só uma questão de saber lidar com eles. Mas, para isso foi preciso ajuda. Ainda é.

Claro que ainda custa falar sobre isto. Ainda há demasiados estigmas sobre as doenças mentais que nos fazem pensar que somos "maluquinhos".

Mas também são esses estigmas que me fazem falar sobre este assunto e dizer: Eu sofro de ansiedade e tenho acompanhamento psicológico. Porque eu sei o quão importante foi para mim ouvir e ler várias pessoas a dar o testemunho das suas doenças mentais.

É aquele aconchego de "não estou sozinha" e do "afinal também acontece aos outros". TU NÃO ESTÁS SOZINHA!

Está mais que na hora de normalizar as doenças mentais. De as aceitar. Porque - e infelizmente - elas são cada vez mais comuns. É preciso desmistificar o acompanhamento psicológico e passar a encarar isto como um tratamento normal e necessário. É preciso encontrar uma forma deste acompanhamento ser mais acessível a toda a população e não apenas uma "coisa para gente rica". 

DOENÇA MENTAL NÃO É FRESCURA

Muito menos uma moda. Ir a um psicólogo ou a uma psiquiatra não é "coisa de malucos". É coisa de quem se quer curar. De quem quer melhorar e resolver a sua vida.

Doenças mentais são tão normais como ter uma dor de dentes ou miopia. Também tenho de miopia e por isso vou ao oftalmologista. E há uns meses andava com dor nos dentes e (adivinhem...) lá marquei uma consulta no dentista. Então qual é o escândalo de marcar uma consulta na psicóloga, se os meus pensamentos também me andam a provocar dores? NENHUM!

Estamos no Setembro Amarelo, uma campanha internacional de consciencialização sobre a prevenção do suicídio e que tem o objetivo de chamar a atenção para esta problemática,  e de combater o estigma e promover a saúde mental.

Desta forma, e como já o fiz noutros anos, decidi trazer a temática para o blog. Porque é preciso tornar estes assuntos normais. Porque é preciso lembrar que muita gente sofre em silêncio por falta de apoio, conhecimento ou vergonha. Porque é preciso lembrar que grande parte da população não tem acesso a psicólogos.

Trago este assunto e dou a cara, porque quantos mais formas a falar mais hipóteses temos de ser ouvidos e de normalizar esta conversa. Porque foi preciso outras pessoas falarem sobre os seus problemas de saúde mental para eu perceber que não tenho de ter vergonha. Para perceber que não sou a única. Para interiorizar que devo pedir ajuda. Sempre!

É MUITO FÁCIL IGNORAR

Um "anima-te" ou um "pensa positivo" parecem ser a solução para todos os males das doenças mentais. Mas não é. Nem nunca será.

É preciso muito mais. É preciso compreensão e acompanhamento. Da família, dos amigos, de especialistas. Mas, primeiro de tudo, é preciso reconhecer! É preciso aceitar. 

Se conheces alguém nesta situação, não ignores. Oferece-te para ajudar. Às vezes é só preciso ouvir, sem julgamento para começar a ajudar alguém. Depois aconselha a pessoa a pedir ajuda profissional. Por mais próximos que sejam, a família e os amigos não são o suficiente para tratar estas doenças. Se não são para as outras, também não o são para estas. Claro que ajudam. E muito. Mas não chegam.

Se estás a passar por algo deste género, fala. Pede ajuda! De amigos ou família e profissional. Não estás sozinha e o teu problema irá resolver-se. Vai ser difícil? Talvez. Mas tu vais ser capaz! Eu acredito em ti. Tu és forte!