16/04/2021

LIVROS | O ANO DO PENSAMENTO MÁGICO, JOAN DIDION

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Sentas-te para jantar e a vida, como a conheces, termina. Esta passagem consegue resumir todo o livro O Ano do Pensamento Mágico, de Joan Didion.

A escritora perde o marido a 30 de dezembro de 2003, momentos antes de jantar, depois de terem chegado do hospital onde a única filha estava em coma. O Ano do Pensamento Mágico é um relato do luto de Joan no ano que se seguiu a este acontecimento. É uma visão numa e crua sobre a morte e o sofrimento de quem fica. 

Sentas-te para jantar e a vida, como a conheces, termina. Esta passagem consegue resumir toda a vida. O Ano do Pensamento Mágico nasceu do luto, mas é uma espécie de ode à vida. Uma celebração dos anos felizes de um casal apaixonado e da sua filha. Uma lembrança que a vida é breve e que a devemos aproveitar ao máximo com aqueles que nos são queridos. Um aviso para nos recordar o quão escasso é o nosso poder e que pouco mandamos nesta vida. Um alerta para estarmos atentos aos mais pequenos sinais e amarmos todos os dias. Desde bem cedo e todas as horas, porque quem sabe se chegamos a jantar. 

Li este livro porque a Carolina Santiago e Magda Cruz falaram dele num episódio do podcast Ponto Final, Parágrafo. Fizeram-no de uma forma tão entusiasmada que no mesmo dia estava a comprar a versão ebook e a começar a ler. Foi a melhor compra impulsiva que fiz. É a melhor compra que alguém pode fazer, porque o livro de Joan Didion devia ser de leitura obrigatória. Principalmente para quem já perdeu pessoas próximas e queridas.

A escritora norte americana dá-nos uma narrativa muito pessoal daquilo que viveu, pensou e sentiu no ano após a morte do seu marido. Mas, ao mesmo tempo é como se essa dor se encaixasse em nós. É como se essa dor tivesse a capacidade de se transportar e de se moldar aos sentimentos de cada pessoa, pois, de uma forma ou de outra, serve-nos como aquele casaco que melhor se assenta em nós. Digo casaco mesmo com a intenção de um sobretudo pesado e quente, daqueles que nos protegem das tempestades e nos aconchegam nos dias frios.

Sentas-te para jantar e a vida, como a conheces, termina. O Ano do Pensamento Mágico é a forma como Joan Didion passou a ver a vida depois desse término e como ela a recorda todo o antes daquele jantar que não chegou a ser feito. Não há muitas palavras que se possam dizer sobre este livro, porque tudo o que se possa tentar reproduzir não fará jus ao sentimento que é lê-lo. Há todo um misto de emoções que vão desde pele arrepiada com a frieza da vida e a sensação de um abraço quente e apertado por percebermos que não estamos sós na dor. Porque cada um vê e lida com a vida - esteja lea no princípio, meio ou fim - de uma maneira única e Joan lembra-nos dessa individualidade ao mesmo tempo que nos mostra que, no fundo, passamos todos pelo mesmo. 


1 comentário

  1. Há uns anos, vi este texto interpretado pela Eunice Munoz e fiquei completamente siderada com a história. O ano passado, salvo erro, li-a finalmente e fui desarmada. Porque é dura e de máxima importância, atendendo a que nos faz refletir sobre os vários tipos de luto.

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