10/03/2021

DISCOS ESCONDIDOS | TODAS AS MULHERES, RITA LEE E LEILA DINIZ

todas as mulheres, rita lee
foto daqui

Rita Lee é uma das cantoras mais irreverentes do Brasil. Acho que até podemos dizer do mundo. Tem um grande talento musical e as suas canções conta balouçam entre o vanguardista e o rebelde - em especial, tendo em conta a época em que muitas delas foram feitas. Além disso, é ativista e feminista e essa sua luta está muito presente nas canções que compõe e canta. 

Entre as suas músicas encontramos Todas As Mulheres Do Mundo, pertencente ao álbum Rita Lee, lançado em 1993. Esta é uma das minhas músicas preferidas da cantora. E, também, uma das que me fez começar a ouvir mais e ficar fã de Rita Lee. É daquelas que canções que me deixa animada, me estimula e enche de coragem. 

Toda mulher quer ser amada
Toda mulher quer ser feliz
Toda mulher se faz de coitada
Toda mulher é meio Leila Diniz

Podemos ouvir no refrão. São palavras poderosas, apesar de simples. São palavras irreverentes, porque não é toda a feminista que diz que "toda a mulher se faz de coitada". Mas, fazer o quê? Somos manhosas, é verdade. Os homens também. A igualdade não pode ser só nas vantagens. Há que saber aceitar e encarar os defeitos.

Mas nem são estas palavras em específico que me dão energia... É a enumeração de todos os tipos de mulheres e dos nomes delas. Transmite um sentimento de conforto e união. Soa a grito de luta. Uma por todas, todas por uma.

Um facto curioso - e que descobri enquanto pesquisava para escrever este artigo - é que a canção Todas As Mulheres Do Mundo foi lançada em 1993, o ano em que nasci. É apenas uma coincidência, mas fez-me sentir ainda mais próximo da música. (Conta-me se também sentes isto com músicas do teu ano).

todas as mulheres do mundo, leila diniz
foto daqui


LEILA DINIZ

Toda mulher é meio Leila Diniz, repete a cantora brasileira no final de cada refrão. 

Vou fazer aqui um aparte para confessar que as primeiras vezes que ouvi a canção percebi Leila de Lis... é a prova que Leiria ainda está presente no meu coração.

Toda a mulher é meia Leila Diniz, ouvimos repetidas vezes ao longo da música. E depois de tantas vezes o nome Leila Diniz fica no ouvido e só me questionava quem seria esta mulher. Seria cantora? Atriz? Política? Ativista? Anónima? Sem-abrigo? Uma personagem fictícia? Seria tudo isto ou nada?

Com tantas perguntas por responder. E ainda mais curiosidade, lá fui pesquisar sobre quem é Leila Diniz.

No site E Biografia descobri que foi uma atriz brasileira muito irreverente, que quebrou várias barreiras e estereótipos da sociedade. Nascida no Rio de Janeiros, em 1945, começou a trabalhar numa creche aos 15 anos e as 17 casou com o cineasta Domingues de Oliveira.

Começou a sua carreira como corista, em 1963. Daí seguiram-se filmes, novelas e até teatro. Ganhou destaque em1966, quando foi protagonista do filme Todas As Mulheres Do Mundo, uma comédia premiada e muito bem recebida pela crítica e pelo público brasileiro, realizada pelo seu marido. 

Todas As Mulheres Do Mundo... Onde é que já ouvimos este nome? Pois, agora tudo faz mais sentido!

Leila Diniz era uma jovem mulher rebelde e revolucionária - em especial para o Brasil das décadas de 60 e 70 - que manifestava publicamente a sua liberdade, independência e prazer sexual. Prova disso foi uma entrevisa ao semanário O Pasquim, na qual afirmou "Eu acho bacana ir pra cama. Eu gosto muito, desde que dê aquela coisa de olho e pele, que já falei. Agora, sobre o amor, eu não acredito nesse amor possessivo e acho muito chato. Você pode amar muito uma pessoa e ir pra cama com outra. Isso já aconteceu comigo". (Goldenberg, M, 1994)

Acho que dizer isto, hoje, em pleno século XXI já seria algo que ia fazer correr muita tinta - ou originar muitos comentários e artigos online - fazer uma afirmação do género nos anos 60 deve ter sido algo explosivo.

Leila Diniz também quebrou os paradigmas da mulher vista com esposa e mãe, ao não se casar e ter uma filha fora de uma relação, não por um acaso involuntário, mas por ser uma escolha própria. Além disso, desfilou a sua barriga de grávida de biquíni, pelas praias de Ipanema, em 1971. Tal causou grande impacto e agitação, pois não era comum e nem bem aceite que uma mulher grávida se expusesse assim.(Goldenberg, M, 1994)

Acabou por falecer cedo, aos 27 anos, mas ainda hoje é considerada um dos rostos e vozes do feminismo brasileiro, graças à sua forma espontânea de se permitir ser ela mesma em liberdade.

Gostei muito de conhecer a história de Leila Diniz e aconselho a leres o artigo que deixo no link da referência bibliográfica, não só pela vida da atriz, mas também porque é uma visão muito interessante sobre o feminismo. Afinal, somos todas meio Leila Diniz ;)


Conhecias esta música?
E a história de Leila Diniz?


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