PLAY | PÔR DO SOL

imagem daqui

Pôr do sol. Pôr do sol. Pôr do sol. Pôr do sol. Se não leste a cantar, prepara-te e fica por aqui para conhecer a série maravilha da ficção nacional. Se leste a cantar, fica também e vamos ser amigas.

(aviso! esta publicação pode conter spoilers descontextualizados)

Pôr do sol é uma série da RTP que satiriza as novelas nacionais. A sua história tem todos os clichés a que temos direito. Desde a família rica com muitos segredos e intrigas, até à família do bairro pobre que só serve para dar um toque de humor. Passamos pelas gémeas separadas à nascença, os irmãos bons e os irmãos maus. Os personagens criados para fazer todo o trabalho sujo e os bonzinhos que afinal revelam traiçoeiros. Os sonhos impossíveis que se realizam por magia (e sem sentido) e os personagens com graves problemas que descobrem o caminho certo. Ah e claro, os amores impossíveis e romances cheios de controvérsias. 

Tudo isto parece normal e banal se pensarmos em todas as novelas que vimos. E não vale a pena dizer que nunca se viu uma novela. Todos já vimos uma novela. Nem que seja o Anjo Selvagem ou os Morangos Com Açúcar.

Mas Pôr do Sol é diferente de todas as outras. Porque todos as situações e personagens são construídos para mostrar ao extremo o ridículo de cada cliché. Sempre com um toque de humor que nos faz rir a cada cena. A isto juntam-se os diálogos icónicos e sem sentido que ficam presos na nossa mente e não saem nem por nada. A sério, podem até mandar um pagamento por MBway a Nosso Senhor do Coisinho, que vão continuar a citar Pôr do Sol em situações aleatórias do vosso dia-a-dia. 

HISTÓRIA E PERSONAGENS

Começamos pelos Bourbon de Linhaça. A família rica, dona da Herdade do Pôr do Sol onde produzem cereja e criam cavalos de corrida. Incluindo o famoso Testículo. Como uma boa família rica de novela, os Bourbon de Linhaça têm uma vida invejável, mas escondem segredos do passado e intrigas no presente. Dois irmãos - o bom e o mau, claro - que lutam pela gestão da família, da herdade... e do colar de São Cajó (pausa para imaginar uma forte luz dourada a aparecer).

As gémeas separadas à nascença são fruto de um romance entre a patroa e caseiro. Claro que a filha desaparecida é a personagem revoltada à procura de vingança e que vem intensificar ainda mais os dramas da família de Santarém. Que a Comissão Nacional de Proteção de Agrobetos a proteja!

No lado oposto da história, temos os habitantes do bairro da Madragoa. Aqui há muitos gritos entre vizinhos, fados, artimanhas e alguns segredos. Até porque estes são a alma de qualquer novela. Para mim, o grupo da Madragoa é o mais descontextualizado da série. Se formos espremer bem o conteúdo no núcleo pouca história tem. Mas não o vejo como negativo. Afinal todas as novelas têm personagens e núcleos pouco trabalhados e que só servem para animar. E para isso, o grupo da Madragoa serve bem. Então, boas tardes, classe operária e continua a festa.

Outro núcleo bastante aleatório é a revista Blaze. Basicamente serve para unir os ricos e os pobres e para nos mostrar como todos os segredos das novelas são descobertos. Não é por milagre, não é por uma razão incrível que se esqueceram de escrever no guião... É tudo graças à dark web. Para quem não conhece, pode ir ver o site da Segurança Social, diz que é muito parecido.

Temos ainda a banda de garagem com grandes sonhos, os Jesus Quisto. Formada por quatro elementos, representa as minorias, trabalhador do campo que quer ser famoso, jovem roqueira-alternativa, rapaz vegan e rapaz toxicodependente. Ensaiam num bar que só serve mesmo para isso e são os criadores de grandes êxitos como Beavers In Loves, Holocaust Vegan e Chup It Up. Podes ouvir a discografia no Spotify.

MENÇÕES HONROSAS

Fora dos núcleos principais, existem algumas personagens e pormenores que preciso de destacar.

Começamos pelos Cavaleiros do Ratex, os motards mauzões. Ai de quem se atreva a brincar com este grupo. Mas, calma, eles têm regras e são muito organizados. Até enviam mensagens com referências de pagamento e pedidos de resgate com templates do Word.

Passo agora para o Toy. O Toy, autor e intérprete de tantos genéricos de novelas nacionais. Claro que só podia ser o Toy a dar voz ao genérico de Pôr do Sol. Mas nesta série tem, ainda, uma participação especial. Aparece em cenas aleatórias de quase todos os episódios. 

Por fim, preciso de homenagear todos os copos de whiskey que o Simão Bourbon de Linhaça partiu com as próprias mãos. Sem, estes copos nada seria igual! Outro jogo para fazer enquanto se assiste.

RIR DE NÓS MESMOS

Todas as interpretações de Pôr do Sol são excelentes. E tornam-se ainda melhores quando pensamos que esta série é uma sátira às novelas e é interpretada por atores de novelas.

No fundo, os atores da série estão a gozar com eles mesmos. A levar ao extremo do ridículo o seu trabalho normal. Gosto muito deste pormenor, porque mostra como é bom rirmos de nós de mesmo e como é interessante desconstruir quem somos e o que fazemos.

Nesta tarefa, às vezes tão difícil, de nos rirmos de nós mesmos, podemos começar aos poucos. Por exemplo, rir daquilo que gostamos. Rir das novelas que vemos. Ou víamos. Esta também é uma realidade quando vemos Pôr do Sol.

No fundo, Pôr do Sol é uma série ótima para rir. Se ainda não viste, está disponível na RTP Play. Se já viste, podes sempre rever. Eu estou a pensar fazer isso nos próximos tempos ;)