27/04/2021

DIGITAL | NICHOS, BOLHAS E OUTROS CLICHÊS

nichos, bolhas e outros clichês

Vivemos num mundo digital, onde tudo e todos estão online. Uns mais do que outros, é verdade. Mas continuamos todos ligados por linhas invisíveis que unem o mundo e nos separam da vida exterior. Não é de todo uma crítica. Afinal estou aqui, não estou? E já são nove anos de blogosfera. E têm sido ótimos. Este cantinho da Internet tem-me dado a conhecer muitas pessoas e diferentes formas de olhar o mundo. Só que entretanto tem vindo a mudar.

A mudança é boa. Aliás, a mudança é necessária e deve ser não só aceite, como também procurada. Mas nem toda a mudança é uma evolução. Às vezes parece mais estagnação ou retrocesso.

Os blogs têm vindo a perder terreno para as redes sociais. É compreensível. Lá tudo é mais rápido, instantâneo e até com um toque mais glamoroso e visual. O bonito perdeu o nome para o instagramável e as palavras foram trocadas por emojis. O prazer de partilhar ideias e pensamentos deu lugar à sede do sucesso de um projeto digital. E a liberdade de escrever sobre tudo um pouco está a ser trocada pela obrigação de se falar de um só tema.


NICHOS: A EPIDEMIA DA ESPECIALIZAÇÃO

Se queres ter sucesso, tens de ter um nicho específico. Gritam a torto e a direito todos os gurus do Marketing. Mas, será mesmo assim? Atenção! Enquanto profissional da área aplaudo todos os negócios que se focam num só nicho. A segmentação do público-alvo é muito importante para o posicionamento de uma marca e é das informações essenciais para ditar o rumo da sua comunicação e presença no mercado. Por outro lado, não concordo que tudo precise de ter um nicho definido para ter sucesso.

Afinal, o que é sucesso?! Se para uns pode ser faturar cinco dígitos por mês, para outros pode ser fazer alguém pensar sobre determinado assunto. Tudo depende dos objetivos de cada um. Os meus para o Maresia são simples: escrever o que me vai na alma, escrever sobre os meus gostos, opiniões e experiências. Em poucas palavras, os meus objetivos são incompatíveis com nichos.

Enquanto leitora de blogues a história repete-se. Não quero fazer um discurso de Velho do Restelo. Houve muita coisa que mudou para melhor, incluindo a forma mais cuidada como se escreve e desenvolve temas e até a identidade visual dos blogues, que torna toda a experiência de leitura mais apetecível e cómoda. No entanto, a (tentativa de) especialização dos blogues num só tema torna-se limitadora não só para quem os escreve como também para quem os lê.

Tudo o que é demais enjoa e gosto da diversidade de temas e da multiplicidade de opiniões que por aqui se encontra. Ou, pelo menos, costumava encontrar. Os nichos parecem uma epidemia. Como se já não nos bastasse as que por aí andam a confinar-nos em casa. Ainda nos incentivam a fechar-nos também dentro de nós.


BOLHAS ABERTAS, MENTES FECHADAS

Os nichos são ótimos para ajudar os algoritmos das redes sociais a darem-nos o que queremos. Ou será o que nos fazem acreditar que queremos?! (Fica lançada a questão para quem quiser pensar sobre ela.) Vamos nos rodeando de informação sempre sobre os mesmo temas e tendemos sempre a ler só e apenas o correspondente à nossa opinião. As balanças deixaram de ter dois pesos e duas medidas, para ter apenas a mesma visão, como se fosse a resposta vinda de um email automático.

Vivemos na era da informação e estamos cada vez mais desinformados. Porquê? Porque ser informado dá trabalho e requer tempo e é muito mais fácil seguir o rebanho, divididos em nichos, cada um na sua bolha. Antigamente punham-se palas aos burros, hoje em dia dão-se nichos aos (pseudo)intelectuais.

Todos querem ser uma voz ativa numa área, mas acabam por se esquecer de ser ativos na busca de diferentes perspetivas. Já não há horizontes para expandir, apenas feeds para percorrer num scroll incessante que pouco acrescenta e onde tudo se repete.


VER ALÉM CLICHÊS

Num resumo muito simples, os nichos são importantes para qualquer negócio. Físico ou digital. Também são importantes para quem, a nível individual, queira viver como criador de conteúdo e tenha um projeto sobre um determinado tema.

Apesar da sua importância, os nichos não são obrigatórios. Não quando se trata de algo que fazemos por lazer - ou por amor - como, por exemplo escrever num blog, ou criar conteúdo para uma rede social. Já temos tantas obrigações e regras a seguir, porquê auto impormos ainda mais limites?!

Devemos antes pensar naquilo que somos. Nós somos seres únicos e multidisciplinares. Muito dificilmente alguém tem apenas um interesse na vida. Deste modo, é válido querer ter um blogue onde se aborda vários assuntos. Mais, é uma forma de escape. Criar por prazer e não por dever. Se é um passatempo, então que seja prazeroso.

Enquanto leitores e consumidores de informação é saudável e necessário ler sobre diferentes temas e pontos de vista para que consigamos construir a nossa identidade e pensamento crítico, em vez de apenas seguirmos clichês e ideias superficiais.

A multiplicidade deve estar bem presente nas nossas vidas para nos espicaçar, fazer pensar, fazer agir. E os blogues têm-me ajudado muito nesse aspeto. Foi através da blogosfera que conheci pessoas que, de outra forma, talvez nunca iria conhecer, que me deram a conhecer diferentes áreas e visões e que me puseram a pensar sobre assuntos que provavelmente nunca iria pensar neles sozinha. Tudo isto aconteceu porque sigo blogs que abordam vários temas. Começaram por me cativar com algo relacionado com os meus gostos, mas depois também falam de matérias que me dizem menos. Algumas passaram a ser do meu interesse e outras serviram apenas para saber que tal conceito existe

Seja como for, saio sempre a ganhar. Saio sempre com mais informação. Saio sempre com o horizonte um pouco maior. Saio sempre mais.

Então, sejamos livres e criemos o que bem nos der na real gana. Vamos admitir a nossa pluralidade e ser tudo o que quisermos. É assim que vale a pena!

2 comentários

  1. Numa perspetiva profissional, entendo que os nichos sejam fundamentais, até porque já implicam rendimentos e uma série de estratégias que respondem a um negócio. Numa perspetiva de lazer, para mim, já não me faz tanto sentido, porque gosto da liberdade de hoje escrever sobre música num dia e, no outro, falar sobre futebol.
    Acho que a ausência de nichos acaba por ser mais estimulante :)

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    1. No fundo temos de encontrar um balanço nos que nos faz sentido :)

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