Livros | o meu A Sombra do Vento

"(...) poucas coisas marcam tanto um leitor como o primeiro livro que realmente abre caminho para o seu coração", podemos ler no final do primeiro capítulo de A Sombra Vento, de Carlos Ruiz Záfon.

É por isto que guardo - na estante e no coração - três livros especiais. O Bébe Minnie no Bosque, que marco a minha relação próxima com os livros mesmo antes de saber ler; o Rosa, Minha Irmã Rosa, que foi o primeiro livro juvenil com mais letras que desenhos que li; e acima de tudo o A Sombra do Vento, que me abriu caminho para uma relação íntima e poderosa com os livros.

NÃO HÁ AMOR COMO O PRIMEIRO

Sinto que há uma Marisa-leitora-antes-sombra-do-vendo e uma Marisa-leitora-depois-sombra-do-vento. Antes lia por gosto e por hábito. Lia romances e histórias bonitas. Lia para ocupar o tempo. Lia qualquer. Depois de A Sombra do Vento passei a ler por paixão e necessidade - quase por capricho, já que "a única diferença entre um capricho e uma paixão eterna é que o capricho dura um pouco mais", como disse Oscar Wilde. Leio histórias profundas e envolventes. Leio livros muito bem escolhidos, porque a vida é demasiado curta para perder tempo com histórias vazias. Leio para lavar a alma. Leio para viver.

A primeira vez que li A Sombra do Vento tinha entre os 18 e os 20 anos. Não me recordo bem. Lembro-me, sim, do sentimento avassalador que a leitura me proporcionava. De andar com o livro para onde fosse (e isso não foi propriamente bom, como já vais descobrir). De me deixar envolver pelas aventuras e desamores do Daniel Sempere.

Em agosto decidi relê-lo. Outra estreia, pois a primeira vez que reli um livro. Senti uma espécie de chamamento, como o Sempere filho sentiu quando viu o "seu" A Sombra do Vento no Cemitério dos Livros Esquecidos. Com três diferenças: (1) o meu livro não estava esquecido, estava bem à vista na sua parteleira; (2) quando peguei no meu, desta vez, já sabia ao que ia; e (3) já esperava que a leitura não fosse tão rápida como a do Daniel. A dele demorou mais ou menos um dia, a minha durou mais ou menos dois meses. Fui intercalando o primeiro livro de Carlos Ruiz Záfon com outras leituras, pois o objetivo sempre foi ler com calma e saborear esta obra.

Ao reler o primeiro da saga Cemitério dos Livros Esquecidos lembrei não só a história, porque havia muitos pormenores adormecidos na memória, como também algumas curiosidades sobre o meu exemplar de A Sombra do Vento.

HISTÓRIAS E CURIOSIDADES

Quando li A Sombra do Vento andava com ele para todo o lado. Isso tem pouco de extraordinário, eu sei. Andar com livros de um lado para o outro é um dos maiores hábitos de leitores. Acontece que li a obra de Záfon durante o verão... e levava-o para a praia.

Um dia, deixei-o pousado na ponta da minha toalha enquanto lanchava. Estava tudo normal, mas o mar já estava a encher. De repente, vem uma onda maior e molha boa parte das minhas coisas. Incluindo o livro. Ele saiu quase ileso,  mas tem as últimas páginas meio onduladas e manchadas com pintas pretas por causa da humidade.

Há pouco falei da forma como A Sombra do Vento me chamou para o reler. Mas esta não foi a primeira vez que o livro me guiou leituras. Essa, fio quando o livro me apresentou a saga Millennium. Na última página do livro tem vários livros da coleção Bis, entre os quais Os Homens que Odeiam as Mulheres. Quase tal como o livro de Carax chamou Daniel, o livro de Stig Larsson chamou-me também e fez-me mergulhar numa aventura intensa pela vida de Lisbeth Salander.