10/10/2020

minha praia | A saúde mental importa


Há muitas coisas que me dão ansiedade. Coisas grandes, coisas pequenas. Fatores externos, macaquinhos no meu sótão. Eventos esporádicos, rotinas diárias. Lugares, sons, gestos, pessoas. Más recordações do passado, sufocos do presente, incertezas do futuro. O que não consigo controlar.

Tenho uma lembrança vaga da altura em que me foi diagnosticada ansiedade. Os ataques de pânico, a dor física, as idades ao hospital, os medicamentos, as idas à psicóloga e à psiquiatra. É uma altura meio enevoada da qual ficaram apenas alguns flashes e a certeza de não querer voltar a um poço tão fundo.

ANSIEDADE. Só a palavra causa dor. Ansiedade não é frescura, é doença. Saúde mental - ou a falta dela - não deve ser negligenciada, deve ser cuidada. A saúde mental importa.

Uma queimadura ou um braço partido veem-se bem. As doenças do foro psicológico não. Podem, até, ser facilmente encobertas com um sorriso. É tão fácil esconder. É tão fácil fingir. Para os outros e para ti. É tão simples ignorar. Só por não ser físico. Ou será que é físico? 


A ANSIEDADE DÓI, SENTE-SE E VÊ-SE

A ansiedade dói. Primeiro começas a ficar sem ar. O coração acelera. Dói-te o peito. Cresce em ti uma vontade de gritar. Mas, não consegues. Perdes a força. As tuas pernas fraquejam. Não consegues andar. Doem-te tanto que tens vontade de as arrancar. O teu corpo começa a ficar pesado. Cansaço. Queres dormir para esquecer. O sono não vem. Insónias. Queres sair de dentro de ti. Fugir. Esconder-te. Não consegues. Não podes. As lágrimas caem. Escorrem pela tua cara. Choras. Cais. 

A ansiedade vê-se. As outras doenças psicológicas também. Só que, por norma, são mais visíveis na solidão. Escuridão. Se estiveres atenta consegues ver. Se quiseres consegues ver. Estão nos olhos, nos gestos, nas palavras. Ou na falta deles. 

Há muitas coisas que me dão ansiedade. Felizmente, estou numa fase em que, melhor ou pior, consigo enfrentá-las. Fazer o que é preciso. Saber o que preciso. O que me faz bem. Consigo levantar-me cedo, vestir-me, sair à rua, trabalhar, lutar, viver. Longe vai o tempo em que só o simples ato de sair da cama me causava tremores e exigia de mim um esforço gigante. Gritante. 



CONHECE-TE, ACEITA-TE E PEDE AJUDA

Ainda há dias maus. Vão existir sempre dias maus. Ainda me falta o ar. O coração ainda me acelera. Ainda perco a força. Ainda me doem as pernas. Ainda tenho insónias. Ainda perco a fome. Ainda como para disfarçar os sentimentos. Ainda há coisas que não consigo fazer. 

Só não é tão intenso como no início de tudo. Aprendi a lidar. Aprendi a falar. Aprendi a resistir. Aprendi a lutar. Aprendi a conhecer-me. Aprendi a pedir ajuda. 

A ajuda... A tão importante ajuda. O sair da solidão e falar. A ajuda de especialistas. A ajuda de pessoas próximas. A ajuda de nós mesmos com a adoção de pequenos hábitos. A ajuda que é conhecer-te. A ajuda que é não teres vergonha. 



AS DOENÇAS PSICOLÓGICAS NÃO SÃO MOTIVO DE VERGONHA

Tenho miopia desde os seis anos. Desde essa altura que uso óculos. Está, literalmente, na minha cara que tenho um problema de visão. E não vergonha nenhuma nisso. Acho que não conheço ninguém com vergonha de usar óculos, mostrando, assim, ter uma doença nos olhos. É algo que me vai acompanhar o resto da vida. Então porquê ter vergonha de dizer eu sofro de ansiedade?

Porque a sociedade ainda está cheia de estigmas e preconceitos sobre a saúde mental. Ou falta dela. Eu sei. É triste. Frustrante. Revoltante. Mas os preconceitos vencem-se quando falamos deles sem vergonha. Sem medo. Por isso, falo. Conto a minha história. Dispo a minha alma. Digo-te que não estás sozinha!

Se sofres, fala! Se vês sofrer fala! Falar não resolve todos os problemas, mas acredita que ajuda muita.
Cuida de ti. Cuida dos teus. Sem medos. A saúde mental importa! Tu importas!

FORÇA!

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